quinta-feira, 17 de março de 2011

Chorrillanas


por Nelson e Nancy
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Prato estudantil, pósbaladeiro e telefutebolístico número um do Chile é a chorrillana. Um petisco simplérrimo disposto em largas travessas, para se pinchar com palitos de dente. Composto por uma imensa cama de batatas fritas, recoberta por um espesso edredom de cebolas na chapa chafurdadas em ovos mexidos, sobre a qual se deita uma suculenta porção de lascas de carne frita. O caldo da carne e da cebola envolve as batatas, encharcando-as e deixando-as muito saborosas.

Uma lenda improvável conta que a chorrillana nasceu para atender aos marujos famintos que aportavam na cidade e precisavam de algo rápido, barato, nutritivo e acima de tudo farto, para aquecer o estômago. Sem grande preocupação com a balança, convenhamos.

Além da tradicional, de carne, hoje já existem variações com frango, linguicinha, vegetarianas e até de frutos do mar (que no Chile são razoavelmente acessíveis). Essa forma de preparo é conhecida como “a lo pobre”, porque faz render a carne, e pode ser encontrada nos cardápios de pés sujos de todo o país. Também há versões com molho de tomate.

Tido como o local de nascimento do petisco e considerado ainda a melhor chorrillana de todas é o Casino Social J. Cruz, em Valparaíso. Nada de cassino, mas muito de social. É um simpático sujinho cheio de personalidade, uma atração à parte e referência da boemia. Quando se olha a entrada a partir da rua, a impressão que se tem é de que se trata de sequestro. O boteco fica lá no fim de um estreito, escuro e interminável beco sem saída com muros grafitados, onde não passa carro. Quando se adentra, temos certeza que é seqüestro: encontra-se uma pitoresca sala de um fluorescente mal iluminado, com mesas e paredes forrados a cada milímetro com milhares de nomes e fotos 3 x 4 dos freqüentadores, provenientes de todos os cantos da galáxia, além de uma miscelânea de quinquilharias empilhadas, penduradas nas paredes e camisas de futebol do teto. O bar só serve chorrillanas, e as de carne, las verdaderas, acompanhadas de pão e salsa de pimenta ají, para apreciar com uma boa cerveja Escudo. A única opção disponível é o tamanho da porção, para duas ou três pessoas.

O ideal é visitar os Cerros acima à tarde, fotografando o exótico casario e visitando museus como uma das três casas de Pablo Neruda, e depois descer à noite para matar a fome nesse barzinho. Leve uma caneta para deixar seu nome lá.


Casino Social J. Cruz

Calle Condell 1466, Valparaiso, Chile

Aos pés dos Cerros Concepción e Alegre, no lado que dá para o porto

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